domingo, 17 de fevereiro de 2013

A postura do professor do ensino religioso

As formas de conhecimento se apresentam para nós como fragmentárias e incompletas. Nem a ciência, a filosofia e nem a religião podem ser consideradas donas da verdade absoluta. O ensino religioso deve servir para a formação do cidadão. Estes são os termos que caraterizam um professor do ensino religioso são:

a) abertura para alteridade do educando no sentido de respeitá-lo, ouvi-lo, simpatizar e dialogar com ele;
b) ver todas as alunas e alunos como iguais em direitos e deveres e, ao mesmo tempo, diferentes em suas potencialidades e realizações;
c) ter consciência de que o progresso científico e tecnológico não dá respostas para todos os problemas; homens e mulheres continuarão a ser incompletos, inacabados e, por isso, sempre buscarão respostas além do mundo sensível e material;
d) buscar continuamente a competência técnica (pedagógica), política (relacionamento) e ética (comportamento) por meio do aprimoramento contínuo do conhecimento (racional), no sentimento (emocional e da operacionalização (prática);
e) evitar a simples repetição de conteúdos e, ao mesmo tempo, ter consciência de que o conhecimento não deve ser resultado apenas de transmissão-assimilação de conhecimentos, mas conseqüência de uma parceria que constrói novos conhecimentos cidadãos” (CORDEIRO, p. 32).

O ensino religioso não pode e nem deve ser voluntariado, filantrópico ou dirigido por qualquer tipo de interesse. Deve sim, ter formação específica, com graduação em nível superior e educação continuada. Na formação do professor deve haver sólida formação, de preferência na área de Ciências da Religião, cuja graduação está em processo de consolidação. Evitar-se-á o proselitismo, a doutrinação e a catequese. Será proporcionada a democracia e o multiculturalismo com o objetivo de que a licenciatura dê condições para a realização da responsabilidade social. Para que o professor seja preparado na competência para o ensino religioso exige-se consistência, método e recursos didáticos e pedagógicos específicos. Fundamentados nas Ciências da Religião e em outros processos de investigação, que deixem claro o fenômeno religioso na história e nas sociedades, seus símbolos, devem envolver colaborações de diversas ciências na forma multidisciplinar (Cf. CORTELLA, 2007, p. 19-20).
Os campos do saber que se envolvem na formação do docente do ensino religioso são principalmente a história, a antropologia, a sociologia, a psicologia, a filosofia e a teologia, em suas formas abertas para o diálogo e as formulações multidisciplinares que envolvem as diversidades religiosas. Neste sentido é que o “Ensino Religioso é parte integrante fundamental da tarefa educativa e, como tal, precisa de robusta base científica, religiosidade consciente, solidez pedagógica e compromisso cidadão” (SENA, 2007, p. 20).
João Décio Passos nos propõe, como hipóteses da prática educativa, duas tendências na história, envolvendo a questão do ensino religioso. Em sua opinião “a inserção plena do ER nos sistemas de ensino e nos currículos escolares poderá ocorrer se efetivarmos o terceiro modelo baseado nas Ciências da Religião” (PASSOS, 2007, p. 27). Tais modelos são o catequético, o teológico e o das Ciências da Religião. Vale lembrar que Passos nos coloca como tendências e não necessariamente únicos modelos. O modelo catequético, mais antigo, demonstra a religião como dominadora na sociedade. Em relação ao teológico há discussões em relação à sociedade secularizada e tem bases antropológicas. Já o modelo das Ciências da Religião possui referências para o estudo como disciplina autônoma nos currículos escolares (Cf. PASSOS, p. 28). Tais explicações históricas podem fundamentar o jeito da formação docente em cada época e o que se propõe para a formação docente atual. Ainda que, se a religião for tratada de forma científica, se corram riscos, em relação a um possível reducionismo, pode-se considerar que no ensino religioso haverá mais consistência com relação à formação docente.
A postura do professor combina-se atualmente com a proposta de ensino fundada nas Ciências da Religião. Posto isto ter-se-á que aprofundar em que contextos as Ciências da Religião estão postas no Brasil e em que sentido seria melhor buscar seus significados para sua utilização no campo do ensino religioso.
 
Referências
CORDEIRO, Darcy. A evolução dos paradigmas e o ensino religioso. In: SILVA, Valmor da (Org.). Ensino religioso - educação centrada na vida: subsídio para a formação de professores. São Paulo, Paulus, 2004.

CORTELLA, Mário Sérgio. Educação, ensino religioso e formação docente. In: SENA, Luzia (Org.). Ensino religioso e formação docente: Ciências da religião e ensino religioso em diálogo. São Paulo, Paulinas, 2007.

PASSOS, João Décio. Ensino religioso: mediações epistemológicas e finalidades pedagógicas. In: SENA, Luzia (Org.). Ensino religioso e formação docente: Ciências da religião e ensino religioso em diálogo. São Paulo, Paulinas, 2007.

SENA, Luzia (Org.). Ensino religioso e formação docente: Ciências da religião e ensino religioso em diálogo. São Paulo, Paulinas, 2007.

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