sábado, 20 de dezembro de 2014

Livro de ciências da religião

A obra Compêndio de ciência da religião ganha em 3º lugar  o prêmio Jabuti da área de ciências humanas. Ela contém uma série de textos, muito bem organizados pelos Doutores Frank Usarski e João Décio Passos, que contemplam diversas temáticas inclusive sobre o ensino religioso. Esse livro apresenta uma reflexão ampla e profunda sobre os assuntos abordados.
Para ver mais detalhes da obra:
http://www.paulinas.org.br/loja/?system=produtos&action=detalhes&produto=524131

O ensino religioso: desafios e perspectivas

A revista de Teologia e Ciências da Religião apresenta uma edição sobre o Ensino Religioso. Você pode ler no Editorial:
Este número da Revista de Teologia e Ciências da Religião da UNICAP tem como tema “Ensino Religioso: desafios e perspectivas”. É importante lembrar que o Ensino Religioso tem como objetivo desenvolver a dimensão religiosa do ser humano, no conjunto de sua formação integral...
Continuar lendo ....
http://www.unicap.br/ojs-2.3.4/index.php/theo

Como surgiu o calendário

Um jeito divertido de saber como surgiram os diversos tipos de calendários é esta apresentação de uma rádio que explica o jeito caipira de como eles surgiram.
Como é bom a gente aprender rindo ...
A gravação é de 2007, mas como serve para nós ainda hoje.
Você vai ter que baixar para ouvir.
Calendario do caipira


Confirmação da teoria do big bang

Como pode um ponto inimaginavelmente pequeno transformar-se num volume dum berlinde de brincar, num tempo tão curto que mal o podemos medir?
Resposta: deixando uma marca indelével de ondas gravitacionais.
Continuar lendo:
http://www.astropt.org/2014/03/17/inflacao-cosmica-descoberta-espetacular-confirma-teoria-do-big-bang/

Entender como a ciência vê o universo

Uma sequência de programas apresentados pelo Fantástico da Rede Globo, o Poeira das estrelas, dá uma visão da ciência sobre o universo. É interessante a gente observar esses vídeos, pois  é dessa forma a compreensão dos cientistas, mas não de todos. É uma visão interessante de como é visto o universo a partir da ciência, de suas principais teorias, como a do big bang, por exemplo.
Acesse o link que lá você observa a sequência do programa Poeira das estrelas:
https://www.youtube.com/results?search_query=Poeira+das+estrelas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

RELAÇÃO DE CONTEÚDOS: 6º AO 9º ANO


6º ANO
7º ANO
8º ANO
9º ANO
1. Cultura de tradição oral nas religiões:
1.1. Oralidade e religiões antigas
1.2. Os mitos e a identidade religiosa
2. Textos das tradições religiosas:
2.1. Textos Sagrados
2.2. Textos das religiões Orientais
3. As Lideranças religiosas
3.1. O iniciadores das religiões
3.2. Projetos missionários e proféticos
4. Revelações nas religiões:
4.1. As revelações nas religiões Orientais
4.2. As revelações nas religiões Ocidentais
1. As origens das tradições religiosas:
1.1. As religiões mundiais
1.2. Religiões afro-brasileiras e indígenas
2. A ética nas religiões:
2.1. O bem e o mal
2.2. Valores religiosos
3. Costumes religiosos na família e na sociedade
3.1. Critérios de costumes familiares
3.2. Os costumes religiosos na sociedade
4. As denominações religiosas no Brasil:
4.1. História das religiões
4.2. Novos movimentos religioso
1. Os ritos e os símbolos religiosos:
1.1. Diversidade religiosa
1.2. Divindades e fé
2. Morte ressurreição e reincarnação:
2.1. Vida além-morte
2.2. Ideias de retorno e morte
3. A violência no contexto religioso:
3.1 O fundamentalismo das religiões
3.2 O diálogo como superação da violência
4. Celebrações do Judaísmo
4.1. O ano novo judaico: o dia do julgamento
4.2. O contexto da páscoa
1. A vida comunitária nas tradições religiosas:
1.1. Problemas sociais e religião
1.2. Leis, normas e comportamento
2. Espiritualidades:
2.1 Vida espiritual religiosa
2.2. Vida espiritual dos sem-religião
3. Transcendente nas religiões
3.1. As divindades
3.2. O ser humano e o sentido da vida
4. As dimensões coletivas das manifestações religiosas:
4.1. A relação entre estado e religião
4.2. Religião e política no Brasil

Texto: Espiritualidade


Organizadores: Prof. Esp. Francisco Ribeiro da Silva e Me. Manoel Gomes Rabelo Filho

Resumo: Este texto contem uma apresentação das ideias dos Professores Dr. José Policarpo Júnior e Dr. Marcelo Pelizzoli sobre o significado de espiritualidade no contexto filosófico do humanismo e no contexto religioso.

Entre espiritualidade e religião há uma relação possível, mas não necessária. As tradições religiosas promovem e ajudam o fiel a desenvolver a espiritualidade no sentido que Dalai-Lama nos coloca: “A espiritualidade produz uma mudança interior no ser humano”. Mas isso não é necessário e nem todas as religiões ou vivências religiosas conduzem ao desenvolvimento da espiritualidade.1
Há uma série de polêmicas relacionadas às questões de espiritualidade e religião. O primeiro aspecto a se compreender é que a espiritualidade está para a religião assim como o mito está para a mística. A religião é uma dimensão instituída de ritos e vivências de algo anterior, que é a mística, a conexão do ser humano com o sagrado. Esta conexão entra numa dimensão fundante do ser humano em todas as tradições religiosas, antes do cristianismo, antes das organizações religiosas propriamente ditas. As religiões constituem uma vivência mais organizada da espiritualidade, mas a espiritualidade é anterior. A própria palavra espiritualidade tem a ideia de espírito. Há pessoas que a entendem como algo fantasmagórico, mas nas tradições mais antigas, como em grego Pneuma é o ar e ao mesmo tempo é espírito, em hebraico Ruah que é o sopro e também espírito e o Spiritus em latim. Todos possuem uma ideia conectada com a natureza, não uma coisa abstrata. Religião possui uma ideia de religar o homem com o sagrado. Na tradição Ocidental, muito marcada pelo cristianismo, se volta muito à questão de Deus, de religar o homem com Deus, ao monoteísmo, que não é a maioria da humanidade, nunca foi.2

O que é espiritualidade?
Espiritualidade é uma compreensão determinada do ente humano, de todos os seres, e também um modo de viver, correspondente a tal compreensão. Para o meio intelectual é muito fácil separar o que é da existência – o que se vive – do que é da esfera do pensamento. Na espiritualidade esta separação é impossível, ou inadequada. É preciso que a compreensão do ser humano seja associada ao modo de viver, tudo o que promove no ser humano a sua unificação consigo mesmo, com os outros, com o ambiente, com o cosmos, e para aqueles que acreditam com o sentido último, isto é espiritualidade. Essa unificação é promovida por atividades humanas que são do âmbito do invisível. No campo da filosofia as atividades espirituais como a razão, o acesso aos valores, o querer, o julgar são atividades espirituais, isto é, não são do visível, mas do invisível. Nem por isso são atividades menores. São essenciais ao ser humano. Ele só se unifica consigo mesmo e com os outros, com o ambiente por meio do cultivo desta dimensão que é a esfera do invisível.3
A espiritualidade é uma compreensão, não meramente racional, é um diálogo da vida inteira do sujeito da vida com a verdade, da adaptação do ser humano ao social, ao natural e acima de tudo uma vivência. A espiritualidade é uma dimensão prática de sentido, não é simplesmente dizer “eu acredito que Jesus salva” e eu estou salvo. Isso não tem relação com a espiritualidade, pois ela é a vivência naquilo que ocorre. Lévinas diz que “espiritualidade é a fome do outro”. Com isso ele dá um corte nas dimensões muito abstratas e dogmáticas da espiritualidade, porque é a fome que o outro está passando, que é um ser humano como eu, e ao mesmo tempo a fome que eu tenho do outro, do grande Outro, a fome que se tem em nível de espiritualidade no sentido mais profundo que você pode chamar de Deus, pode chamar de natureza, de amor. É importante pensar uma espiritualidade não dicotômica. Temos uma tradição milenar de uma espiritualidade dicotomizada – reforça a separação extrema entre bem e mal, entre Deus e o diabo – reforçada pelas religiões. Aquela noção maniqueísta do mundo, ou se é do bem ou do mal. É claro que todos querem pertencer ao grupo do bem. Como vencer isso, visto que uma espiritualidade que afirma serem os outros do diabo e a si mesmos como salvos não é espiritualidade, porque trai toda a tradição de espiritualidade, no sentido de uma tradição adequada, do sujeito no mundo, do papel de aceitação do outro, da aceitação da vida que no fundo é o amor. Se observarmos Cristo, Buda e outros possuem esta tradição. Na Índia existem templos com casais realizando ato sexual, o que não há em um templo Ocidental. Para um dogmático do Ocidente isto representa a decadência, significa um pecado. Para uma pessoa que não tem essa dicotomia, o sexo é a perfeição da espiritualidade.4
Para Comte-Sponville – autor de O espírito do ateísmo – ser ateu não é negar a existência do absoluto, é negar que o absoluto seja Deus. Há, no Brasil, o crescimento dos sem-religião, isto representaria o fim espiritualidade nessas pessoas? Certamente que não, o próprio Luc Ferry em sua obra – A revolução do amor: Por uma espiritualidade laica – trata da importância da espiritualidade laica. É possível uma espiritualidade laica entre ateus, no entanto têm-se a dúvida se os ateus aceitariam o termo espiritualidade, mas deve-se ter atitude de respeito quando não há a aceitação.5
Carl Gustav Jung afirma que o último obstáculo para se chegar ao sagrado – o mais profundo, podendo ser Deus – é a religião. Muitas vezes a religião pode reproduzir – como dizia Sigmund Freud – dimensões neuróticas do ego, do sujeito, os medos mais profundos, da sua carência, da sua falta, da sua dimensão de incompletude do ser humano. Há, portanto, um limiar complexo, muito próximo entre neurose e uma espiritualidade mais sadia. Vê-se problemas de pessoas que tem uma visão dogmática, que cai numa neurose, até numa psicose.6
É possível que a religião seja a ponte para algumas pessoas desenvolverem a espiritualidade autêntica. É claro que absolutizar não é o caminho. Muitas pessoas encontram de fato este aspecto valioso, por meio das religiões.7
As religiões são veículos que conduzem a algum lugar. Esse lugar é a dimensão mais profunda do ser humano, que é a dimensão da vivência do sagrado. É algo mais profundo que dá um sentido de transcendência do ser humano, da busca pela alteridade, pelo outro, pela sua completude, é a ideia de religação. As religiões tem grande importância, por outro lado podem criar obstáculos dos mais terríveis. Observa-se isto através de um fenômeno, que está aparecendo no Brasil e não era muito comum, chamado fundamentalismo, que é o maniqueísmo ou dogmatismo da concepção de um povo eleito, o único salvo. A noção de que se vai para o inferno, de que só uma religião salva, de que só há uma forma de Deus. Existe uma visão de um Jesus branco e de olhos azuis, que é um deus judaico e depois passado para a Europa – uma noção europeia de deus.8 Significa que a visão que se tem de Deus é antropomórfica. Os seres humanos dão forma para o sagrado conforme a cultura. O Buda, no Japão, tem os olhos puxados. Não importa se Deus é amarelo, branco ou não for nenhuma pessoa, não é necessário nem ser uma pessoa, ele pode ser impessoal. No Budismo e em várias religiões ele é impessoal. Isso não interessa, o que interessa é que a vivência desse sagrado seja um bom veículo, e que chegue ao local.9
Em certo sentido já nascemos com a espiritualidade. Ela é desenvolvida, cultivada. Em outro sentido ela é inata – já nascemos com ela – na medida em que já desenvolvemos uma compreensão da espiritualidade. A tradição budista diz que o Buda, após se iluminar percebe que tudo é perfeito, que todos os seres já eram perfeitos, antes dele se iluminar, que o nosso mundo é perfeito, isto é, existia uma perfeição intrínseca, quando a pessoa percebe a profunda conexão com todos os seres e com todos os contextos, ela entende que tudo já é espiritual. Para que alguém desenvolva ou se aproxime desta compreensão, certamente, a espiritualidade vai ter que ser cultivada, desenvolvida. Não há forma única e nem a educação garante coisa alguma. Existem meios de facilitar o progresso nesse caminho, mas não há uma garantia neste sentido. Sem dúvida é algo que precisa ser aprendido para nos relacionarmos de forma criativa, respeitosa, profunda, valiosa com seres humanos e precisamos aprender com isso. Esse aprendizado implica algumas construções internas e algumas construções de interação. Tudo isso precisa vir a ser desenvolvido, não nasce pronto. As experiências valiosas e significativas são formadoras do humano. Se aprende a ser justo fazendo experiência de justiça. Por exemplo Matin Luter King foi uma pessoa que enfrentou a situação, desenvolveu uma compreensão e soube estar a altura desta compreensão para vivê-la.10
A mística é o sentido último de toda espiritualidade. É a conexão mais profunda com o que se pode chamar de Numinoso, isto é, o sagrado. Desse encontro dos sentidos mais profundos da vida humana que envolve coisas práticas da relação entre seres humanos, a ética, o meio ambiente, o cosmos. Para diferenciar mito e mística, primeiro é necessário dizer que o mito, de mithos (grego), de narrar, contar dimensões essenciais de como era no início, de dar sentido para um contexto, para um país. Portanto, isso não é asneira, não é lenda ou mentira. A vida é muito mítica e as religiões trabalham diretamente com o mito. As ideias de Nossa Senhora da Conceição como virgem, o mundo feito em seis dias e no sétimo Deus descansou, não tem a ver com a verdade do ponto de vista histórico. O mito não está interessado com a verdade, mas interessado em entrar na experiência da vivência desse sagrado que se chama mística. O que ocorre com o dogmatismo, que resultam nas guerras religiosas, é que as pessoas se fixam na verdade histórica de seus mitos e isso é uma coisa mais terrível que existe. Há pessoas nas universidades que acreditam que teve uma arca de Noé, isto é a coisa mais grotesca que se possa acreditar. Inclusive os judeus daquela época não conheciam sequer uma dúzia de animais. Nem em todos os navios do mundo se colocaria toda a biodiversidade. O mundo criado em sete dias? O que é o número sete? O que é esse deus dos céus, dos ventos, das tempestades? Como isso foi criado? Por quem foi criado? Vê-se que isso é figuração, é historinha, não interessa se foi assim no passado. O que interessa é a vivência do sagrado que é a chamada mística. O único contexto em que as religiões não brigam – onde um judeu deixa um árabe entrar na sinagoga, um árabe deixa um judeu entrar na mesquita, um cristão pode rezar aqui, o ateu se encontra em pé de igualdade com um não-ateu – é o da mística. Quando se lê os místicos árabes, budistas, mestre Eckehart, São João da Cruz, Tereza D' Ávila encontra-se semelhança inacreditável, porque eles entraram no caminho da iluminação do sentido último das coisas, no sagrado. Neste ponto não tem uma discussão, caem todos os mitos, todos os deuses, seja um deus monoteísta ou não e fica só a essência, como diz o Novo Testamento, o que interessa é o espírito, a letra é morta. Muita gente não consegue entender isso.11
Existem os conflitos por questões históricas de definição de campos de poder, mas isto não é necessário. As próprias ciências se contestam entre si. Ninguém pode pensar a ciência como se fosse uma orquestra, com um regente e todos os instrumentos seguindo uma mesma melodia. A ciência não é assim, mas é cada instrumento tocando a sua melodia, esquecendo as dos demais. O campo científico essa estruturado desse modo. No Brasil, um dos países de maior projeção no mundo, é que essa discussão está embaraçada, obstada. Nos Estados Unidos, em 2012, a instituição Maine life promoveu um simpósio de estudos contemplativos em Denver. Estavam presentes cientistas das várias partes do mundo e de várias áreas das ciências como as neurociências, a medicina, a psicologia, as ciências da educação, a física e a química. E todos, tratando de uma forma respeitosa com os saberes que vem das tradições contemplativas, entre elas o Budismo estava presente e que teve mais influência por causa de Dalai-Lama. Isto é possível e está sendo feito. Não significa que não haja atrito, pois existem várias dificuldades.12
Isso se deve ao fato de que a academia ainda tem aquele ranço racionalista-científico que é o modelo de ciência moderno vindo do séc. XVI e XVII em diante, que é cartesiano-newtoniano, mais racionalista, mecanicista, e que para poder sobreviver, se impor como ciência e modificar o mundo teve que, de alguma forma, superar as interdições, as proibições da religião cristã. Houve choque desde a origem da ciência moderna até a ciência contemporânea. Deve-se observar que o modelo das ciências humanas, sociais, a antropologia, por exemplo, são diferentes das ciências “duras” no caso da física. Hoje se fala muito da ligação da física quântica com espiritualidade, como os de Marcelo Gleiser. Mas há muito charlatanismo, o uso de espiritualidade e física quântica, que não se configura nem como científico, nem como espiritual, mas puro materialismo espiritual para ganhar dinheiro. A ciência, de alguma forma, tem que iluminar os erros da espiritualidade ou da religião. Por exemplo, a pessoa que acredita na arca de Noé ou que o mundo foi feito em seis dias, ou que o homem caiu de paraquedas tem só sete ou oito mil anos de aparecimento no planeta, isto se torna algo da idade das trevas. Veja que a ciência é muito competente para mostra que o mundo (a terra) tem 4,5 bilhões de anos. Hoje você tem um arsenal científico que não há como negar. Por exemplo quando se escreveu a Bíblia judaica e depois a cristã, o modelo de ciência era completamente fragilizado, era mínimo. Eles não tinham nem a ideia do que era o sol, a terra, nem micróbio, nem célula. Por isso que tem que entender como historinha, mito e se ficar com o sentido mais profundo, que é o da espiritualidade. Outro detalhe é que a razão pode convencer, a razão convence, o mito – que trabalha mais de uma forma emocional – e a religião arrastam o sujeito para a morte, para se auto imolar. Então é uma força descomunal, psicológica, profunda de um lado e de outro uma força racional. Portanto, já se tem uma diferença muito forte e na ciência se criou, entre os cientistas, o mito da ciência, transforma-se em uma “religião” também. Observa-se que o mito, a força mítico-emocional ou religiosa, está aí presente.13 A acupuntura, por exemplo, é hoje assumida como algo válido. Só que os seus fundamentos não vem da medicina tradicional, como é propagada e ensinada no Ocidente. Precisaria para isso alargar o campo conceitual da própria medicina. Até a medicina tradicional do Brasil que assumiu como uma das especialidades, não estaria disposta a dar o passo, está disposta a aceitar os resultados, mas não a fundamentação que produz esses resultados.14
Na visão cristã de que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico ir para o céu”, ter-se-ia muito a se dizer sobre isto. É interessante pensar o porque isto acontece. Talvez seja porque eles estão interessados na espiritualidade mais que outros. A questão da relação entre espiritualidade e negócio evoca dois outros conceitos. O primeiro é o de Teologia da Prosperidade. Vê-se em algumas tradições religiosas evangélicas pentecostais e até neopentecostais, mais que em outras. A Teologia da Prosperidade monta um franchising, isto é um negócio. Os pastores brigam por espaço nos meios de comunicação. Essa é uma tradição calvinista, isto é, quando se é abençoado com o dinheiro é sinal de que se está no bom caminho e se contribui mais, e se não contribui pode ir para o mal caminho. A contribuição deve ser feita em pagamentos de carnês, e outros meios, senão se é excluído. Isso é terrível. Tem o banco do Vaticano no catolicismo, encontrados em vários lugares. O outro conceito é o de Materialismo Espiritual. O materialismo das coisas é quando se quer possuir coisas e o materialismo espiritual é espiritualizar no sentido de dizer que “sou salvo”, ou “sou santo”, ou “sou iluminado”. Isto é algo egótico, neurótico, quando alguém quer se colocar acima das miserabilidades humanas, da dor humana, acima dos outros, criando um gueto. Esse materialismo espiritual é elitista. No Filme O Segredo, o materialismo espiritual é demonstrado de forma absurdamente escandalosa. Nele é retratado uma mística no sentido ruim do termo, no qual quando se acredita que vai ganhar o primeiro milhão, se ganha. É o sentido de se pensar quanticamente para mudar o mundo ao seu redor e para isto vai enriquecer para ser melhor e livre das dores do mundo. Se o mundo está ruim, está mal é porque você está pensando mal, não tem justiça política. Então isso é terrível para a política, pois acaba com ela.15
No nosso mundo nada funciona sem o dinheiro, tudo precisa que o dinheiro circule. A questão é, qual é a forma digna de se fazer e que traga o mínimo de sofrimento aos seres, ou o maior benefício possível para que as iniciativas sejam realizadas? Pode-se ver algumas iniciativas como a do indiano que criou um banco popular para financiamentos. Acredito que essa iniciativa é inspirada pela espiritualidade. A pessoa que tem a visão do âmbito dos negócios, mas sabe que aquilo tem que chegar a um maior número possível de pessoas. Ela, então, imagina um meio mais hábil e mais adequado para que isso seja possível. Estrutura um meio viável e assim o realiza. Pode-se afirmar que isto seja apenas um ato econômico, mas não foi. Tem uma inspiração muito sutil e valiosa, por trás, fazendo isso. Quer dizer que as religiões em geral, do modo como elas estão organizadas, se quando elas pensam no modo que tem para alcançar metas que são genuinamente espirituais, sem dúvida ela terão que ter alguma sustentação baseada nos negócios para que isso seja sustentável. A forma é de se perguntar sempre, a que isto se destina? A quem está beneficiando? E por último acredita-se que isso é um critério de visualizar essa relação de espiritualidade e negócio e por fim um outro critério também é a questão do sofrimento humano. É preciso acabar com essa espiritualidade do super-herói. Jesus, que é uma figura paradigmática para nós ocidentais, tem como sua principal simbologia a cruz. Um Deus que morre e parece que é derrotado pelas circunstâncias exteriores. A espiritualidade que não assume o sofrimento humano e não se prepara para que isso seja possível, não aceita a sua possibilidade, já é uma espiritualidade falha e falsa. Não devemos cultivar a espiritualidade para sermos super-heróis, muito bem sucedidos, mas para servirmos ao mundo. Algumas formas de servir o mundo leva ao sofrimento.16
Considerando o sentido mais puro da palavra política, que é a cidadania – Polis = cidade – que é o bem comum, certamente a espiritualidade pode contribuir muito. As Cebs que foram desenvolvidas no Brasil, desde os anos 70, são uma coisa muito linda, muito bonita e com uma mística. A mística do movimento sem-terra de buscar a justiça, a repartição da terra, de um mundo mais justo e a mística dos movimentos sociais. Essa mística de mudança está na ideia de messianismo e tem um conceito de que um mundo melhor se faz e vem. Messiânico tem esse significado, por outro lado há um risco enorme nessa área também, porque existem estados inteiros não só de pessoas, mas de fundamentalistas. Aí retoma-se a questão da religião enquanto instituída. Estados, onde quem manda são os religiosos. Essas dimensões tem que ser consideradas. No Brasil há a ascendência de bancadas cristãs na Câmara Federal. Esta situação pode mudar muito a configuração política, conforme o que essas pessoas pensarem. O que pode ocorrer em termos sociedade? É uma área perigosa, mas ao mesmo tempo necessária. Observa-se que as pessoas que tem a formação, uma espiritualidade, uma capacidade pro amor e a generosidade, os valores que a espiritualidade traz contribuem, o que é muito bom. Um empresário com esse entendimento, o que não faria em termos de um capital social de uma visão socializante ou um político com um visão dessas, talvez não roubasse. Membros do PT durante um tempo tinham uma visão mística de mudar o mundo mesmo. Não era por dinheiro, nem por nada, mas muito disso se perdeu. Estamos numa crise contemporânea e isto aumenta muito a busca pela espiritualidade, tanto para o bem e quanto para o mal. Pode-se chegar a um dogmatismo mais tacanho, violento, contra os direitos das pessoas, a liberdade ou o inverso disso. Vê-se a espiritualidade crescendo, diálogos inter-religiosos, as pessoas abrindo a sua mente e vendo que a união é necessária para fazer algo, senão tudo se perde. Isso está acontecendo neste momento.17
No quadro histórico em que nos encontramos, a democracia é um regime histórico. Acredita-se que a defesa dos meios democráticos de governo é uma atitude da espiritualidade. Mesmo dentro da democracia não se pode idealizar nada, quando nos referimos ao momento histórico em que se encontra o ser humano. Essa conexão é melhor sendo feita do ponto de vista da espiritualidade da política e não exatamente da religião e da política, porque é a questão do posicionamento diante das medidas de circunstâncias que demandam realmente uma afirmação. Um exemplo: Quais os motivos que levam a um parlamentar no Congresso Nacional a votar sim ou não numa determinada matéria? Se ele está movido intrinsecamente por uma convicção, por um princípio que seja o melhor para a população. Isso de fato é fundamental. Infelizmente sabe-se que muitos parlamentares, e não generalizando, pois não é a maioria, não votam exatamente por esses motivos. Isto quer dizer, mesmo numa democracia, exercer a política com dignidade, com respeito, com legitimidade, pressupõe uma certa segurança, uma certa fortaleza espiritual, porque as pressões dos lobs dos governos e às vezes também, os movimentos sociais, porque nem sempre os movimentos sociais querem coisa justa, mas podem querer coisa injusta para oprimir um outro segmento social. É preciso que haja pessoas que estejam bastante convictas, muito firmes interiormente para defender a sua posição de forma legítima e justa. Isso é um ato espiritual na política.18
A espiritualidade na vida cotidiana requer cultivo do seu estado interior, por exemplo pelo silêncio: observar, tomar consciência de si, de como se relaciona com o mundo, o outro, o que faz da vida, como compreender o mundo, as coisas, como olho para o outro, a outra religião, a natureza, os animais, como me alimento, como tenho simplicidade, generosidade, os valores mais fundamentais da vida. A espiritualidade é isso, é o fundamento da minha relação com o mundo, neste sentido é a fome do outro e a fome que o outro tem.19
Olhar para si, reconhecer os seus lados sombrios, buscar conectar-se consigo mesmo em primeiro lugar, depois com os demais à sua volta. Inspirar-se para ter uma vida valiosa, para trazer as coisas boas do mundo, que já tem muitas coisas ruins, ou pelo menos para que não se gere mais sofrimento, mais coisas ruins. Se possível fazer alguma coisa positiva e viver desse modo. Se uma pessoa procura pautar sua vida, no seu cotidiano, nas coisas pequenas, desde tomar um copo d'água e oferecê-lo ao outro, até a vida profissional. Essa é uma forma possível de viver a espiritualidade.20

Referência

ESPIRITUALIDADE: Opinião Pernambuco. Entrevista com José Policarpo Júnior e Marcelo Pelizzoli. Direção: Andreia Rocha; Haymone Neto. Produção: Andreia Rocha; Bruna Aldabalde; Camila Barreto; Cleyton Silva; Haymone Neto. Recife: TVU – TV Universitária, 2013. 54'07''. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=pIhLdHF7gM0>, Acesso em: 11 nov 2014.

Notas:
1POLICARPO JÚNIOR, José. Espiritualidade. In: ESPIRITUALIDADE: Opinião Pernambuco. Entrevista com José Policarpo Júnior e Marcelo Pelizzoli. Direção: Andreia Rocha; Haymone Neto. Produção: Andreia Rocha; Bruna Aldabalde; Camila Barreto; Cleyton Silva; Haymone Neto. Recife: TVU – TV Universitária, 2013. 54'07''. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=pIhLdHF7gM0>, Acesso em: 11 nov 2014.
2PELIZZOLI, Marcelo. Espiritualidade. In: ESPIRITUALIDADE: Opinião Pernambuco. Entrevista com José Policarpo Júnior e Marcelo Pelizzoli. Direção: Andreia Rocha; Haymone Neto. Produção: Andreia Rocha; Bruna Aldabalde; Camila Barreto; Cleyton Silva; Haymone Neto. Recife: TVU – TV Universitária, 2013. 54'07''. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=pIhLdHF7gM0>, Acesso em: 11 nov 2014.
3POLICARPO JÚNIOR. op. cit., 2014.
4PELIZZOLI, Marcelo. op. cit., 2014.
5POLICARPO JÚNIOR, José. op. cit., 2014.
6PELIZZOLI, Marcelo. op. cit., 2014.
7POLICARPO JÚNIOR, José. op. cit., 2014.
8Esta é uma representação de Jesus construída pelos europeus, visto que o que se sabe é que seria impossível Jesus ter esta aparência. A aparência de um judeu de sua época e situação geográfica …..
9PELIZZOLI, Marcelo. op. cit., 2014.
10POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.
11PELIZZOLI, op. cit., 2014.
12POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.
13PELIZZOLI, op. cit., 2014.
14POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.
15PELIZZOLI, op. cit., 2014.
16POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.
17PELIZZOLI, op. cit., 2014.
18POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.
19PELIZZOLI, op. cit., 2014.
20POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Formação dezembro 2014 - Avisos

Avisamos que o último encontro da formação do ensino religioso será realizado:
  • Quinta-feira - Dia 04/12/2014
  • Local - Auditório da Sede de Secretaria de Educação/antigo CEIA
  • Horário-08h às 12h.
  • Assunto: Espiritualidade

Aviso: Alertamos que as postagens enviadas para o blog só será aceita até o dia 08 de dezembro de 2014, inclusive a atividade que será pedida no encontro do dia 04/12.

Coordenação ER.